tag:blogger.com,1999:blog-39693621745807837122023-10-06T04:56:10.545-07:00Campos em fuga (por Leonardo Sá).Sociologia e Antropologia. Trabalho de campo e etnografia. Teoria social clássica e contemporânea. Blog acadêmico de Leonardo Sá. Professor do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV-UFC).Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.comBlogger234125tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-74321070593187836092023-01-20T08:18:00.002-08:002023-01-20T08:18:10.416-08:00A teoria social em tempos sombriosSe a existência de populações inteiras estão sendo postas em risco, num ataque violento da capitalismo autoritário, conservador e neoliberal, o que seria de se esperar da existência de nós, cientistas sociais, como fazendo parte desse alvo de destruição?Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-91918449869232598692021-01-17T02:32:00.002-08:002021-01-17T02:32:16.422-08:00O efeito de ser rotulado pelo outro de "relativista", quando o outro é estimadoNos últimos tempos, a questão das relações entre ciências naturais e ciências sociais se tornou um tema apaixonante para mim. Tenho lido muito a respeito, tentando compreender minimamente como o círculo do entendimento parece afetar os dois lados dessa história. Gostaria apenas de chamar a atenção para um fato que observei. Quando cientistas sociais que são conhecidos por serem perspectivistas radicais estão entre si, apenas entre cientistas sociais, costumam adotar uma postura e uma linguagem que é muito diferente quando são obrigados a dialogar com cientistas da natureza e de exatas. Se tornam mais ponderados, mudam a linguagem, abandonam os radicalismos, fazem de tudo para não cometerem desvios de linguagem que firam as noções básicas da linguagem teórica das ciências físicas etc. Então, percebemos assim que entre nós somos muito performáticos no nosso radicalismo desconstrutor e construcionista. Contudo, diante da alteridade cientifica de cientistas naturais, ficamos cautelosos, moderados, como medo de errar e passar vergonha. Estou falando aqui de colegas famosos que passaram por esse tipo de situação. É algo que me chamou a atenção, vendo uns vídeos pelo Youtube de situações desse tipo. Penso que nós, cientistas sociais, precisamos fazer um esforço para compreender e dialogar com nossos colegas das ciências naturais. Mas sem esquecer que nós nos dedicamos a estudar comunicação simbólica, relações de poder e agenciamentos na vida social humana, fora desse núcleo central temos que ter cuidado para não falar tanta besteira. Fora desse núcleo central, temos mais é que aprender a escutar.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-56753828672388971612020-09-18T07:16:00.003-07:002020-09-18T07:16:44.281-07:00Embates entre branquitudes críticas e negritudes críticasO conflito intergeracional no campo acadêmico desde que universidade e campo científico se integraram no pós-segunda guerra foi o mais sensível de todos, pois envolvia o problema de formação de gerontocracias na academia e nas ciências. Mas isso dizia respeito à interação entre homens brancos mais velhos e homens brancos recém-chegados. A questão de gênero que discute mulheres nas ciências e nas universidades pressionou politicamente a partir dos anos 1960 para que se discutisse que as gerontocracias em torno do big man (homem branco do Norte Global ou ocidentalizado nas margens) era excludente das mulheres. Mesmo com as mulheres produzindo ciência e tocando a universidade com alta qualidade, elas eram quase sempre preteridas das lideranças e chefias. O recorte Norte global e Sul global também veio problematizar as relações entre centros universitários de pesquisa e os países "em desenvolvimento" ou "subdesenvolvidos". Mais recentemente, pesquisadoras cujos corpos são generificados e racializados como negras no sistema moderno gênero/colonialidade, vieram nos mostrar que se havia sentimento de exclusão do homem branco recém-chegado na luta pelo poder e na integração junto às gerontocracias acadêmico-científicas, e as mulheres brancas do Norte global lutaram para entrar no jogo, e os pesquisadores homens quase todos brancos ocidentalizados dos países ex-colônicas também pressionaram para entrar no jogo, isso tudo se deu pela exclusão das mulheres negras do jogo. Neste momento, o dilema parece ser duplo. A versão liberal pela demanda de participar no jogo de poder, rompendo com lugares de privilégios (um conceito liberal de esquerda) ou radicalizar gerando a emergência de ciências não brancas, novas onto-epistemologias e éticas, que reivindicam uma ruptura profunda com o racismo inerente da modernidade acadêmico-científica. Entre esses dois pólos, traçados aqui apenas para efeitos analíticos, há uma gama de variações em luta no próprio campo de luta antirracista. Tenho pensado muito sobre isso. Tenho também percebido que a oposição entre branquitude crítica e branquitude acrítica, elaborada pelos estudos de branquitude, tem sido lida no contexto da recepção brasileira com contornos próprios, diferentes do modo como funcionam nos EUA. Aqui, devido ao caráter mais profundamente racista da formação social brasileira, um racismo mais grave do que dos EUA e da África do sul, como reconheceu o próprio Mandela, os debates se tornaram dramáticos. Acirrados e dramáticos. Ocorre que, enquanto as negritudes críticas e as branquitudes críticas se batem, discutindo suas possibilidades de coalizão e as traições sistemáticas das branquitudes críticas em relação à efetividade da luta antirracista no país, as branquitudes acríticas vão montando com negritudes acríticas subalternizadas (Pele negra, máscaras brancas) por populismos de extrema-direita. E há também outro problema mais delicado: branquitudes críticas que são profundamente racistas e escondem isso de si mesmas e negritudes críticas que são retoricamente muito incisivas, mas seguem na política de branqueamento da academia branca, mesmo retoricamente esbravejando contra isso. Cenários bem complexos. Mas não estou me furtando de problematizar isso em sala de aula com estudantes. E tenho aprendido mais do que "ensinado". Mas escrever sobre isso é confusão garantida. Contudo, a omissão, a indiferença e o "não estou nem aí para isso", do ponto de vista da branquitude supostamente crítica, é uma atitude racista. Observação final da postagem: o título é enganoso, parece sugerir uma equivalência no embate. Há, a meu ver, equivalência de capacidades intelectuais e reflexivas, mas muitas desigualdades que fazem do embate, um embate ele mesmo racialmente hierarquizado. O poder de revide e de cancelamento das branquitudes "críticas" é muito maior nesse jogo. Mas está deixando de ser. O mundo está deixando de ser branco (supremacista). E isso é muito bom. Não estou pessimista quanto a isso. Meu pessismo é sobre como lidar com as maiorias acríticas de brancos e não brancos que seguem a supremacia branca em declínio da extrema-direita no mundo todo.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-4031155845828787492020-01-04T05:59:00.000-08:002020-01-04T06:06:01.505-08:00A evidênciaOs usos retóricos da palavra evidência para angariar efeitos de validação para defesas de ponto de vista em controvérsias públicas são uma ameaça aos usos problemtatizadores das ciências do mesmo vocábulo. Para a evidência estar remetida ao plano da consistência científica, a própria questão da evidência precisa estar tematizada pela demonstração. Estar contra o conceito evidente de evidência é uma atitude científica central. Como diz Latour, "a evidência nunca é evidente, ao menos no início; quanto ao indiscutível, ele é sempre discutido, ao menos no princípio" (Cogitamus, p.95).Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-32931977048782678192019-11-20T04:10:00.001-08:002019-11-20T04:10:50.206-08:00Práticas e praticantesAs práticas e seus praticantes. A realização da pesquisa em ciências sociais adota, na perspectiva praxiológica, os modos de existência e os regimes de signos a eles conectados como universo principal de descrição e análise. Mas o que é uma prática? Práticas são maneiras de agir, falar, sentir, pensar, habitar, que são ao mesmo tempo produto e meios simbólicos de estruturação da vida social. As práticas funcionam como um campo de historicidade. Portanto, um campo de práticas e um campo de historicidade são conceitos germinados.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-79181285360780282372019-11-20T04:09:00.001-08:002019-11-20T04:09:25.388-08:00EscolhasO estilo de vida envolve escolhas, preferências, propósitos e desejos. Por vezes, somos escolhidos e escolhemos aquilo que nos escolheu. Haveria aí um tipo de destino subjetivo, como costumam dizer as teorias estruturalistas. Por outro lado, se é aceitável que as escolhas não podem ser de um sujeito livre, pois ninguém nasce livre, como afirmou Foucault em contraposição a Sartre, existe uma complexa relação entre crença e desejo nos fluxos do real. As crenças seriam formas de estabilizar os fluxos. Os desejos seriam motivadores para o agir. É nessa encruzilhada que se faz necessário pensar uma teoria do sujeito nas ciências sociais. Acho que é a única questão que me interessa ao longo do tempo. A relação entre o valor atribuído e a criação do valor no agir sociocultural. Esse problema teórico é uma paixão antiga. É algo que vai de Hegel a Nietzsche, passando pelo primado da existência que foi afirmado por Marx e Kierkegaard.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-50486588719349862952019-08-26T09:10:00.001-07:002019-08-26T09:10:45.766-07:00Eticidade versus moralidadeNão existe código de ética, apenas código moral. A eticidade é a recusa ativa do codificável.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-85965395763648709382019-08-20T04:53:00.001-07:002019-08-20T04:53:44.290-07:00Realidade da realidadeO que é a realidade? É aquilo que não está em conformidade com os nossos desejos. Aquilo que nos contraria. A realidade é a incerteza, a fluidez, o caráter indecidível do real. O campo indeterminado das relações. A realidade, como dizia Austin, é uma confusão. É o que fere de morte nosso desejo de impor coerência aos fluxos do real, estabilizando-os segundo os princípios de nossa ordem. É o impossível que nos aflige, escapando de nós. O fora do controle.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-80790906940976975652019-08-20T04:47:00.002-07:002019-08-20T04:47:14.006-07:00AgênciaNão há viver social humano que não envolva intenções, propósitos, desígnios e finalidades, o que não quer dizer que as escolhas sejam arbitrárias. Elas são determinadas, condicionadas e circunstanciadas. Mas não as são de modo absoluto. A agência humana é imprescindível ao modelo interpretativo da práxis.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-8775075011834251372019-04-14T07:20:00.001-07:002019-04-14T07:20:56.218-07:00A compreensão como tarefaO lance mais raro é obter uma escuta compreensiva. Na vida social, estamos julgando e sendo julgados incessantemente, uma coisa enervante. Nada mais cansativo do que o julgamento social em operação permanente de inclusão e exclusão dos outros significativos e dos outros irrelevantes. Tornar o outro irrelevante significativo, falante, expressivo, é um desafio fundamental da antropologia. Quando a forma de conhecer o outro que opera essa troca de condições existenciais, cuja tarefa primordial é a compreensão de uma expressividade negada, é menosprezada, podemos ter certeza de que estamos no caminho certo. Filosofia, sociologia, história e antropologia. Não vamos abrir mão da nossa missão.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-37395567272355766052018-11-22T08:42:00.002-08:002018-11-22T08:42:18.458-08:00Uma atitude de pesquisaO cientista social alimenta-se da heterogeneidade, adota uma escuta aberta e conceitualmente crítica frente ao pluralismo dos mundos sociais. O fechamento e a introspecção são contraproducentes para quem faz análise política e sociocultural. Saber escutar a multidão, situando-se com ela na relação com o múltiplo, com as práticas de sentido, é a tarefa primeira da compreensão sociológica. E a compreensão é mais relevante do que qualquer forma de conhecimento. Os atores sociais podem ser inovadores. Mais inovadores do que os cientistas sociais. É preciso estar atento.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-27020002615000863562018-05-24T06:27:00.001-07:002018-05-24T06:27:26.247-07:00Solidariedade intelectualA competição mediocriza gerando atitude arrogante não condizente com a competência. Ao longo do tempo, foram os ambientes de solidariedade intelectual que mais me fizeram avançar na construção da compreensão e do saber. Os ambientes competitivos não apenas me levaram ao adoecimento, como também me levaram à ilusão do saber. Na competição, você acredita realmente que venceu, que se tornou superior, e isso é incrivelmente medíocre, uma atitude contrária ao espírito humano da descoberta, que exige questionamento das certezas, sejam elas quais forem, e, sobretudo, congregar saber e sabor numa mesma experiência-limite geradora. O acumulador de capital informacional passa a associar seu sucesso a uma postura vencedora. Nada mais distante da compreensão, do saber e da atitude de conhecimento.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-48714822177950474672018-03-08T08:08:00.001-08:002018-03-08T08:08:36.060-08:00A tarefa da sociologia e seu método"Sem dúvida, a constituição do objeto de pesquisa, como tal, supõe também a escolha de um aspecto. Mas uma vez que o fato social se dá, seja ele qual for, como pluralidade infinita de aspectos, uma vez que ele aparece como teia de relações a ser desembaraçada uma por uma, essa escolha não pode não se considerar como tal, não pode tomar-se como provisória e ser relegada pela análise de outros aspectos. A tarefa primeira da sociologia é, talvez, a de reconstituir a totalidade a partir da qual se pode descobrir a unidade entre a consciência subjetiva que o indivíduo tem do sistema social e a estrutura objetiva desse sistema. O sociólogo se esforça, de um lado, para recobrar e compreender a consciência espontânea do fato social, consciência que, por essência, não reflete sobre si; e, de outro lado, ele se esforça para apreender o fato em sua própria natureza, graças ao privilégio que lhe confere sua situação de observador que abdica de 'agir sobre o social' para pensá-lo. A partir daí, ele se obriga a reconciliar a verdade do dado objetivo, que sua análise lhe permite descobrir, e a certeza subjetiva daqueles que vivem esse dado" (Pierre Bourdieu).Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-69890573696179348262018-03-08T08:07:00.001-08:002018-03-08T08:07:55.621-08:00Coisas classificadas e sistemas de classificaçãoA relação entre coisas classificadas e sistemas de classificação das coisas é central para a sociologia. O problema da classificação é o próprio objeto da sociologia. Ou melhor, da luta entre classes pelo poder de classificar. O reconhecimento é a questão central. A luta pelo reconhecimento. E isso põe vários autores em intercessão.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-56211663562883057522018-03-08T08:06:00.003-08:002018-03-08T08:06:40.893-08:00Modernidades pensadas 1A relação entre a modernidade da produção e do controle social dos espaços forçosamente heterogêneos e, de outro lado, a modernidade do consumo e da dispersão de padrões de dependência e interação que obriguem compromissos e responsabilidades mútuas, mesmo quando hierarquizantes, é de uma tal complexidade que não há como estabelecer um vínculo entre espaço de produção e espaço de consumo que não seja de uma pressuposição recíproca. "A modernidade substitui a determinação heterônoma da posição social pela autodeterminação compulsiva e obrigatória" (Bauman). Isso me fez pensar no modo como Butler tem tentando repensar um modo de heteronomia sem sujeição como condição da luta política contemporânea contra a imposição de uma vida não passível de luto para a maioria. Como a noção de autonomia é uma versão subjetiva da noção mais ampla de soberania, seria necessário repensar a teoria do sujeito sob uma nova luz. É o que Butler faz em Relatar a si mesmo e em a Vida psíquica do poder.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-2904430459676621172018-03-08T07:56:00.001-08:002018-03-08T07:56:09.366-08:00Uma indagação ainda muito geralA maioria dos membros das classes populares vive em condições tais de exploração e alienação, de imposição de condições precárias, que do ponto de vista subjetivo só resta a terra arrasada, o ressentimento e o ódio de si. Uma raiva que se descarrega de modo horizontal contra os vizinhos, contra os mais próximos e mais fracos. Ou então, é uma raiva contida, pois dirigida contra os mais fortes. Contudo, a resignação é a atitude ampla e geral. O dominado é levado a admirar aquilo que não é e aceitar seu lugar destituído, devido a uma série de falhas supostamente características de sua rede familiar e de parentesco. Os pobres discutem mais os problemas dramáticos da família do que os problemas dramáticos das classes populares em geral. A família como problema vem em primeiro lugar. Durante muito tempo, não prestei atenção a essa questão. Agora, tento mergulhar nela para entendê-la melhor. A família é para os pobres a fonte da vergonha social, com exceções que confirmam a regra. Ou a fonte do orgulho social, como no caso dos ricos e poderosos.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-75400205451675587672017-09-21T04:44:00.002-07:002017-09-21T04:44:45.978-07:00O problema da alto performanceNuma sociedade dividida em classes, o alto desempenho está capturado pela máquina de produzir desigualdades de capital, portanto, torna-se objeto de ressentimentos e raivas. É extremamente complexo manter a tradição do artesão (buscar fazer o melhor, buscar fazer algo com a melhor qualidade possível) num contexto de capitalização informacional e do conhecimento. Buscar fazer o melhor vira um título de capitalização. E nem sempre é a mercadoria mais valiosa no contexto dos mercados informacionais. O alto desempenho exige alto capital. Mas as condições desiguais de distribuição do capital restringem consideravelmente as chances do alto desempenho ser aberto ao talento, como defende a ideologia liberal e da meritocracia. Mas, por outro lado, não exigir alto desempenho dos quadros em formação, pois isso é fazer o jogo do capital, é esquecer que as tradições de artesanato são riquezas comuns das classes trabalhadoras. Numa sociedade de contradições, a ambivalência estrutural é permanente.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-8511500771420781912017-09-13T09:46:00.002-07:002017-09-13T09:46:26.664-07:00Ansiedades de absoluto entre intelectuaisUma atitude de desespero diante do nada tem levado muitos acadêmicos a desejar um retorno ao universalismo a qualquer custo, como se o universalismo a qualquer custo não fosse a principal fonte de problemas. Desejos de universalidade para obter critérios de segurança. A ansiedade de absoluto é o sintoma mais drástico da falência dos órgãos do pensar.
Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-36224740151911266252017-06-24T03:07:00.001-07:002017-06-24T03:07:08.078-07:00Sentidos da errância e errância sem sentidoErramos em dois sentidos. Erramos como seres errantes, que se deslocam na variação empírica contínua de si mesmos, e erramos como seres de percepção, que fazem da totalização o princípio do conhecimento dos outros. Dois erros. Duas formas de errância: a corporal, pela destruição do corpo que a fixidez impõe, e a cognitivo-moral, pela categorização que tudo julga de modo agressivo contra as diferenças.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-86982265588219529022017-06-24T03:01:00.001-07:002017-06-24T03:01:52.139-07:00A tarefa da críticaA tarefa da crítica é minar quaisquer alicerces do sistema de dominação, é gerar descrença, produzindo saber baseado na certeza da incerteza como condição insuperável do humano. É a partir do niilismo que se faz a superação do niilismo.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-80919119357441316382017-04-26T07:46:00.001-07:002017-04-26T07:46:02.136-07:00Teoria é também política.Para quem ainda não leu Contrafogos, de Pierre Bourdieu, fica a dica, pois representa o modo como um dos mais importantes teóricos das ciências sociais faz da teoria uma prática crítica dos discursos neoliberais que investem contra as coletividades e seus direitos. Uma leitura imprescindível para esse momento, pois muitas das estratégias usadas na França e que são analisadas criticamente por Bourdieu estão sendo usadas aqui no BR no atual contexto. Teoria é também política.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-39645035884986119352017-04-24T07:02:00.003-07:002017-04-24T07:02:43.871-07:00Teoria do enquadramento.O modo como Judith Butler, apoiando-se em Goffman e Derrida, repensa a teoria sociológica dos enquadramentos é uma das contribuições mais interessantes no universo dos debates contemporâneos. No próximo semestre, vou ministrar a disciplina Tópicos Avançados em Teoria Sociológica, para o doutorado, vou trabalhar com Bourdieu e Giddens. Mas de um próxima vez, pretendo discutir Foucault, Honneth e Butler. Essa movimentação teórica, incluindo Arendt, Elias, Habermas, Adorno, Sennett, Bauman, Goffman, Becker, Agamben, tornou-se o caldo a partir do qual podemos fazer apropriações críticas que desloquem num sentido pós-colonial, pós-social e pós-feminista o sentido da reflexão teórica desde o sul. Butler me parece conduzir muito bem essa tarefa de crítica e deslocamento.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-47350073028336182502017-04-24T07:02:00.001-07:002017-04-24T07:02:01.819-07:00Retomada da questão do parentesco.O texto que publiquei em 2015 sobre a questão do poder na antropologia foi um modo de preparar o terreno para as novas questões. Afinal, é a partir das considerações da antropologia sobre família e parentesco que se pode problematizar o modo como as relações de poder são inerentes ao universo das relações sociais.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-33733401528955219442017-04-24T07:01:00.001-07:002017-04-24T07:01:11.417-07:00Liberdade, justiça e metafísica.Quando se luta por liberdade, justiça ou igualdade, há sempre o risco de impor uma metafísica com tais significantes. Afinal, liberdade, justiça e igualdade estão também encarnados em regimes históricos concretos com suas normatividades sociais estabelecidas. Laclau e Mouffe sugerem que tratemos tais termos como significantes vazios. A luta por hegemonia é a luta pela significação histórica concreta em torno de tais significantes, que são sempre flutuantes e ambíguos, pois estão em disputa.Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3969362174580783712.post-75872440975665860572017-04-24T06:18:00.001-07:002017-04-24T07:00:31.361-07:00O sujeito livreAdoraria um dia poder fazer uma anarcogenealogia do sujeito livre que nasceu não livre. O tema da liberdade é o tema por excelência que diz respeito ao despertar de um corpo que não está fechado em suas condições de produção. A defasagem entre a sujeição e a recusa ativa da identidade social atribuída como forma de subjetivação pelos enquadramentos da normatividade social existente é a condição da conquista da liberdade, mas não uma condição suficiente. Mas há um problema seríssimo em toda a abordagem de Foucault. Ela não permite discursos que totalizam. Foucault é um filósofo da dispersão. Para alguns, isso é um xingamento, para outros, um elogio. Eis o problema. "Não é, pois, o poder mas o sujeito que constitui o tema geral de minhas pesquisas" (Michel Foucault).Leonardo Sáhttp://www.blogger.com/profile/09858985510625014731noreply@blogger.com0