Sociologia e Antropologia. Trabalho de campo e etnografia. Teoria social clássica e contemporânea. Blog acadêmico de Leonardo Sá. Professor do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV-UFC).
sábado, 28 de dezembro de 2013
Anotações para uma palestra.
“Imagina um guerreiro. Ele não quer sobreviver, ele quer viver. Ele não quer piedade, ele quer a vitória. Ele quer o vinho depois da batalha. Ele não quer a lágrima de suas mulheres na platéia. Ele tem a espada. E a arena tem a multidão gritando pela luta. Agora imagina a arena. O gueto, o tráfico nos becos, as armas e sirenes da polícia. Prostituição. Violência. Tudo bem próximo aos arranha-céus milionários, pontos turísticos, boates e night clubs da classe A. Entre o mar e a favela, onde se encontram os extremos do apartheid social, entre a compra e a venda de sexo, drogas e diversão. Imagina que o guerreiro é poeta. Ou cronista. Ele precisa trabalhar no limite, precisa alcançar a poesia sem perder o realismo da crônica. Ele precisa converter as decepções e injustiças em energia e força pra seguir lutando.
Precisa transformar o negativo em positivo. Então imagina um marginal com o porte de um rei. Ou melhor, imagina um rei que foi transformado num escravo, que se transformou num marginal, pra voltar a se transformar num rei um dia. Imagina a trilha sonora de guerreiros e guerreiras. Um som capaz de tirar eles do poço pra voltarem a ser o que são na verdade: reis e rainhas. Esse é o som do Costa a Costa”.
http://www.costaacostaonline.com/site.php
“É impossível fugir à impressão de que as pessoas comumente empregam falsos padrões de avaliação – isto é, de que buscam poder, sucesso e riqueza para elas mesmas e os admiram nos outros, subestimando tudo aquilo que verdadeiramente tem valor na vida” (Freud).
A população de Fortaleza é de aproximadamente duas milhões de pessoas. Existem 636.435 jovens com idade de 15 a 29 anos.
67% desses jovens vivem em famílias cuja renda não alcança mais que dois salários mínimos.
71,4% desses jovens percebem-se como não brancos, ou seja, reconhecem-se como mestiços, afro descendentes e indígenas. 14,4% desses jovens declaram que sua ascendência etnica ou cor pode ser definida como “só branca”.
Esses jovens, em sua esmagadora maioria (91%), acreditam que podem mudar o mundo. E que a solidariedade, o temor a Deus, a igualdade de oportunidades, o respeito às diferenças, a dedicação ao trabalho e o respeito ao meio ambiente, são os valores mais importantes para uma sociedade ideal.
81,3% desses jovens consideram como muito importante o desenvolvimento de políticas de cultura, esporte e lazer em áreas públicas.
Quando se trata de cultura e lazer,50,9% nunca foram ao teatro, seguidos de 22,4% que foram apenas uma vez. Isto significa que 73,3% dos jovens fortalezenses estão culturalmente excluídos da prática cultural ligada à linguagem teatral.
43,9% desses jovens nunca foram a um museu de arte, seguidos de 33% que foram apenas uma vez. Isto significa que 76,9% dos jovens fortalezenses estão excluídos da prática cultural ligada à linguagem das exposições de arte.
40,6% desses jovens nunca foram a uma biblioteca pública, seguidos de 28,6% que foram apenas uma vez. Isto significa que 69,2% dos jovens fortalezenses estão excluídos da prática cultural ligada ao uso de bibliotecas públicas.
24,8% desses jovens nunca foram ao cinema, seguidos de 15,8% que foram apenas uma vez. Isto significa que 40,6% dos jovens fortalezenses estão excluídos da prática cultural ligada ao circuito das salas de exibição cinematográficas.
57,6% desses jovens já perderam pessoas próximas em mortes violentas. Sendo que 59,3% desse universo a causa mote dessas pessoas próximas foi assassinato.
26,7% desses jovens declaram ter sofrido violência policial.
48,3% já tiveram contato com arma de fogo.
Apenas 12,4% dos jovens fortalezenses estão cursando nível superior, completaram nível superior ou pós graduação.
Fonte: Pesquisa retratos da Fortaleza jovem. http://www.fortaleza.ce.gov.br/default.asp
Reflexões
Violência é produzida pela falta de reconhecimento público.
Violência é produzida pela invisibilidade e falta de oportunidades de expressão e comunicação.
Violência é produzida pela negação de canais de constituição dos sujeitos sociais e culturais.
Violência é sintoma de uma crise de projetos coletivos envolvendo democracia e participação.
Violência é sintoma da falência de projetos políticos centrados em arte, ciência e cultura.
Violência é sintoma da impossibilidade de se encontrar oportunidades de viver uma vida que possa ser considerada digna e significativa do ponto de vista dos sujeitos sociais e culturais.
Violência é a ausência de geração de emprego e renda em conexão com os valores da sociedade da informação, do conhecimento e das novas tecnologias.
Violência é a negação do outro como sujeito de desejos, de direitos e de deveres para com a coletividade.
Violência é a frustração derivada das negações sistemáticas de realização pessoal, familiar e da cidadania pelo reforço perverso das práticas de autoritarismo que restringem de modo criminoso as liberdades e a criatividade das pessoas.
A violência não é inevitável, não é uma fatalidade, não é algo inescapável, pois a solução do problema está em nossas mãos, depende da nossa decisão em envidar esforços para a circulação livre e democrática da riqueza socialmente produzida. E as fontes da riqueza hoje são conhecimento, informação e participação democrática em decisões que afetam o macrocosmo e o microcosmo das nossas relações interpessoais.
Leonardo Damasceno de Sá
Fortaleza, 15 de setembro de 2007.
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