segunda-feira, 22 de junho de 2015

Freud e a proibição da crítica e da discussão.

Os grupos sociais baseiam-se na promoção de crenças que funcionam como verdades a fim de validar seus centros de poder, legitimando as normas que os autorizam a existir como grupos sociais. Os centros de poder dos grupos sociais buscam então eliminar dissensões e banir dissidentes. Sobre isso, Freud escreveu: "A sociedade recusa-se a permitir que essa questão seja ventilada porque tem má-fé sob vários aspectos...A sociedade mantém uma condição de hipocrisia cultural, que está fadada a se fazer acompanhar de um senso de insegurança e uma necessidade de resguardar uma situação inegavelmente precária pela proibição da crítica e da discussão". Poder-se-ia emendar, dizendo que a incitação ao uso de clichês, que gera uma excitação nas pessoas, possui um poder de modelação mais forte do que o da proibição simplesmente, pois o uso permanente do clichê ocupa a energia da intelecção humana, fazendo-a operar em conformidade cognitiva com os gadgets que orientam a economia do sujeito para a lógica do consumo autorreguladora e automobilizadora da experiência de operar com imagens íntimas no sistema de crédito e de circulação do medo e da vergonha, uma mecanismo simultaneamente de promoção de fantasias de grupo com função integradora que, por sua vez, geram o autoderrotismo da falência de um eu sobrecarregado pela ansiedade de status, entre outras coisas.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

A crise dos modelos de subjetividade e as ansiedades de reconhecimento no Brasil.

A impressão que eu tenho, e é mero achismo, pois não sou pesquisador do tema, é de que desde 1910 a sociedade brasileira está sendo confrontada pelos dilemas da modernidade. Os primeiros modernismos artísticos e literários fizeram o tema cosmopolita do niilismo e de sua superação adentrar no universo mental e de sentimento dos segmentos letrados das classes médias e médias altas urbanas. De 1910 a 1950, antecipou-se como dilema cultural a transformação de um Brasil rural em um Brasil urbano. 1950 é a década da virada. A população passa a ser predominantemente urbana. A revolução industrial brasileira (1930-1970) é uma outra força estruturante das mudanças mais amplas. Nas décadas de 1970-1980, as questões do niilismo moderno tornam-se mais difusas, a MPB, o teatro, o cinema, a cultura pop, o rock, enfim, há uma massificação do sentimento de que as imagens autoritárias e hierárquicas da ordem social estão sendo abaladas, os sentimentos morais entram em conflito intenso. Todavia, as ideologias políticas das esquerdas tinham um papel de unificação do campo como sendo um campo democrático popular, que tornava possível o convívio entre diferenças movido por um sentimento de pertença à comunidade em transformação. Com a queda do muro de Berlim em 1989 e até 1999, com a revolta de Seattle, os dez anos de sentimento de perda, desmobilizaram muitos segmentos em luta. A ascensão de governos de esquerda partidária ao comando do Estado destruiu pouco a pouco o sentimento de pertença a uma comunidade mais ampla inserida num processo de transformação democrática do país. Isto resultou em fragmentação, isolamento e burocratização da "luta", ou seja, a luta virou um mito político que embala algumas minorias radicais. O grosso da população brasileira está vivenciando o ápice desse conflito moderno onde não há ancoragem possível para critérios de julgamento moral, fazendo do vazio, do sentimento de vazio e da ameaça que este sentimento provoca, alertado pelo medo, uma situação de ambivalência entre paranoia e esquizofrenia. Entre totalidade e fragmentação, ambas provocando dor, receios e as mais diversas aflições psíquicas de um ponto de visa social, a ansiedade de status, ligada às mudanças na estratificação social, está acompanhada de ansiedades quanto às formas subjetivas da personalidade em contexto de indecisão e incerteza, onde as pretensões de absoluto parecem falhar lá onde são mais reafirmadas, sintomaticamente.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

A concepção de pessoa

"Julgo que não se deve essencializar as pessoas, não devemos tomá-las como 'single malt culture' como se diz dos whiskies" (Michael Herzfeld). Precisamos aprender a lidar com narrativas, discursos e retóricas de pessoas híbridas, lembrando que a própria concepção nativa de pessoa na troca de condição com a do universo de origem do antropólogo é a problematização que orienta etnograficamente todo o processo de investigação.