terça-feira, 19 de julho de 2016

Nietzsche e a questão do poder

Descobri uma coisa. Parece ser equivocado pensar Nietzsche como uma filosofia do poder. Pois ele inaugurou outra maneira de pensar, uma maneira de pensar contra a ideia de poder como finalidade. Hobbes e Hegel que fizeram filosofia do poder. Enfim. Vontade de poder não é a vontade de chegar ao poder, de possuir poder. Vontade de poder é uma crítica ao poder. Esse alerta é feito por Deleuze e também por Foucault. Marx também foi um crítico da hipostasia do poder, não admitia o campo de luta como princípio universal da vida coletiva, não poderia ser etiquetado como filósofo do poder. Pensando alto, escrevendo o esboço da minha conferência de sexta sobre Nietzsche e a teoria das multiplicidades na antropologia contemporânea. Mas vou trabalhar melhor essa ideia, ainda estou me sentindo confuso diante dela.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Coerência mínima

O importante é a luta contra a passividade e a dependência neurótica em relação aos outros. Pessoas desejantes não cabem em caixas. Não cabem sequer em si mesmas. São pessoas em fluxo. É possível manter alguma coerência diante de tantas incertezas sobre o que seja o mundo sem recorrer a mitologias? Certamente. Caso contrário, não haveria atividade do pensamento. Atividade de afronta ao real. Uma afronta nua e crua, que gera mais ansiedades, naturalmente. Ou seja, uma coerência mínima, provisória e instável.

Dispositivos morais

Os desejos de exercer crueldade contra os outros que são amados e respeitados são frequentemente barrados pelo sentimento de culpa. Já quando dirigidos contra os outros classificados como indesejáveis, são ancorados nas mais diversas justificativas morais, em geral, estapafúrdias. O pior é quando estão institucionalmente consolidadas. Um dos fatos mais destacados do cenário contemporâneo talvez seja o intensivo empobrecimento moral dos debates públicos. Ademais, há formas cada vez mais destacadas de insensibilidade moral circulando no espaço social. Poder-se-ia falar de privação moral que atua como seletividade moral contra os outros classificados como fracos, perdedores e indesejáveis; mas, raramente, contra a devassidão e os crimes dos fortes, vencedores e seus modos desejáveis de referência.

Pulsão de morte

Para se buscar o bem-viver é preciso fazer reflexões sobre as possibilidades e probabilidades de morte que nos ameaçam. Mas tais reflexões não são suficientes, apesar de necessárias. Quem não as faz, assume os riscos inerentes ao que resta subjacente, fora do campo de reflexão. Aquilo que nos impele para a morte parece ser uma condição da criatividade.

Um certa literatura psicológica

Quando estou consumindo, por razões profissionais, certa literatura psicológica anglo-saxã, escrita por brancos de sucesso e dirigida para o sucesso dos brancos vencedores, dizendo que o importante é evitar a atitude desesperada, sinto uma raiva pessoal enorme. Sei que estão falando da maioria de nós, os perdedores, os outros, as ralés desesperadas. Falam da terapia como modo de integração na vida do vencedor, ou seja, na vida do rico, branco, anglo-saxão ou europeu como padrão de felicidade. Estou errado? A emocionalidade me faz errar nesse ponto?

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Aversões nas relações

As pessoas sentem aversão umas pelas outras. Os sentimentos de aversão são parte considerável das relações sociais.

Novos desejos sociais

Esse desejo de um mundo ordenado, onde as normas sejam efetivamente orientadoras da conduta efetiva, sob ameaça de dissolução, é uma resposta extremamente fraca ao caráter inerentemente contraditório das normas e das normas em relação às condutas desejáveis. O neoliberalismo, se isso quer dizer um campo de práticas de conhecimento, tornou-se um contexto por demais afeito ao jogo, onde todos são jogadores. Isso é insuportável para os competidores falhos. Estes desenvolvem então intensos sentimentos de ansiedade que, de modo ambivalente, reforçam o cenário desejável de jogo livre, ou seja, agressivo, mas rechaçam a condição de incoerência contextual que torna possível o jogo generalizado. Nasce um desejo de mercado livre com figuras fortes e autoritárias de controle do desejo.