sábado, 25 de julho de 2015

Vontade de saber

O pensamento crítico é uma paixão. É preciso amor pelo pensamento para realizar discursos críticos livres. Há trabalho do desejo na busca por uma verdade. A escrita é uma prática do eu, contudo, a escrita de si é a negação do narcisismo, pois a escrita de si é a relação com o estranho, uma relação com as formas absolutas e relativas da alteridade, é no campo do Outro, é no Outrem, onde mora, quase na impossibilidade, a inscrição da nossa condição de sujeito na individualidade. O que me interessa é pensar de outra maneira, na relação com o estranho, filosofando no contramovimento e operando com procedimentos de inversão. Uma filosofia crítica como problematização daquilo que nos limita e nos capacita. Até onde podemos e somos capazes, esta é a questão. Precisamos experimentar novas formas de dar conta da própria vida. Novas éticas. Outras morais, morais possíveis. E o discurso crítico livre é fundamental para essa invenção. O discurso livre é a condição da ética. E o discurso livre não precisa ser autorizado pela lei.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

A vida integrada pela prisão.

Falar que a vida hoje é uma prisão é mais do que uma metáfora. A lógica de funcionamento da vida social contemporânea é prisional. O desejo difuso de que o encarceramento em massa de "elementos" (categorias de pessoas indesejáveis) que não se encaixam na lógica concentracionária da gestão de espaços de capitalização segundo o programa da oferta liberal, que exige adesão subjetiva ao fazer tudo em condição de precariedade, trocando subserviência por alguma segurança e gratificação que amorteça o risco da queda numa situação de pobreza "atrasada", diferente da pobreza gratificada com fantasias de grupo, como o da "nova classe média", o que tem gerado um efeito de transferência do tipo: "se eu vivo numa lógica concentracionária, os "elementos" saqueadores precisam ser tirados de circulação, simplesmente, precisam ser punidos e punidos". Há um desejo de punição infinita do saqueador (ladrão, assaltante, latrocida), mas há também a estratégia de enxugamento de categorias de pessoas sobrantes, como é o caso do indivíduo jovem atuando no mercado das drogas ilícitas, como fonte de renda mínima para acompanhar o fenômeno desejante da pobreza integrada. O encarceramento massivo não apenas dos saqueadores, mas, principalmente, dos vendedores de drogas, funciona como uma política de gestão de espaços coletivos, afinal, a intervenção na dinâmica do mercado ilícito das drogas, retirando ou injetando mão de obra, possui efeitos sobre os preços de todas as mercadorias envolvidas, incluindo os próprios vendedores das drogas. Há uma percepção social muito difusa de que há grande quantidade de pessoas descartáveis e que o emprego útil para essas pessoas é ser audiência, clientela e usuário de condomínios prisionais privados, que possam gerar lucros, a única maneira de fazer o "elemento" descartável ser produtivo, tornando-se insumo para o sistema prisional empresarial, gerando com isso um efeito de ordem pela retirada de circulação de uma massa indesejada de pessoas, que causam ruídos na vias de comunicação e acesso dos condomínios.