sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Como um golfinho

Uma imagem forte que Paul Veyne criou para falar da dupla condição de pensador cético de Michel Foucault foi a do aquário. Os peixes dentro do aquário não sabem que vivem dentro de um aquário, não conhecem os limites do seu próprio mundo, e tomam o mundo do aquário como sendo o mundo em sentido essencial, ou seja, o único mundo existente e possível. O método de Foucault pode ser entendido pelo salto do golfinho. O exemplo é do próprio Foucault. O golfinho mergulha no mais profundo e com um forte impulso emerge dando um grande salto giratório sobre a superfície. E nesse giro, nesse salto, o golfinho obtém uma perspectiva de localização de fontes de alimento e de posicionamento para a sua navegação. No caso do aquário, como peixinhos que somos dentro de um deles, teríamos que aprender a dar esse salto e esse giro que nos permite ver o aquário por um instante do exterior, um pensamento do exterior ganha uma condição existencial de possibilidade a partir deste salto. E o peixinho no aquário nunca mais será o mesmo. Buscará fazer a recusa ativa dos limites impostos em busca de outros mundos possíveis, que não sejam aqueles circunscritos pelo imposto de uma existência imposta.