sábado, 23 de novembro de 2013

A busca pela pessoa no campo.

Na relação com que indivíduos não-moradores de favelas mantêm com os que são identificados como moradores de favelas, a distinção nós e eles, com seu primitivismo, suas pressuposições quanto à selvageria do outro, por meio de imputações de criminalidade e promiscuidade generalizadas na elaboração da moldura a partir da qual moradores de favelas são representados, é que residia o problema central da minha inserção inicial em campo. Como desfazer a distinção nós e eles no caso específico do meu trabalho de campo? A solução que encontrei foi adentrar no universo da favela seguindo as sugestões de uma antropologia da pessoa. Ou seja, ao postular formas de vida na favela que pudessem ser pesquisadas como estilos de existência, criava um recurso de pesquisa segundo o qual não era a privação, nem a falta, nem a desestruturação, que se buscava na pesquisa na favela, mas os modos de existência das pessoas que lá moravam. E se lá moravam pessoas, essa era o deslocamento que eu estava a buscar em campo, qual seria a concepção nativa de pessoa na favela? Que tipo de compreensão havia na favela sobre o que seja tornar-se uma pessoa? Ou dito de outro modo: que tipo de não-compreensão seria possível confrontar com minha não-compreensão do que fosse uma pessoa?

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