quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os signos e os sentidos.

Um sistema de signos. Domínios de experiência, campos de relações sociais e mundos socioculturais são criados e recriados com signos. O signo e o evento estão consubstanciados. Entre sigo e acontecimento, há pressuposição recíproca. Não há sentido em falar de história material, de um lado, e história das ideias, do outro. A divisão entre materialidade e simbolismo é uma falsa divisão. O simbolismo é uma materialidade, o que não quer dizer que o símbolo não se relacione com o real, o que é importante aqui é dizer que ele se relaciona consigo mesmo na relação que entretém com o real. O signo não funciona apenas como índice de uma realidade. O signo também é significante de significante, mas não é neste sentido estruturalista que gostaria de insistir. Estou tentando pensar o signo como signo formador (D.). E os signos podem ser usados para formar sistemas pluralistas e abertos na vida coletiva. É essa dimensão pragmática do signo, uma pragmática das relações sociais e culturais, que pode ser o elemento distintivo. Segundo Deleuze, há quatro grupos de signos formadores na obra de Proust: signos mundanos, signos amorosos, signos sensíveis e signos artísticos (ver RM, p.195). Duas obras que marcaram profundamente minha maneira de interpretar o funcionamento da vida social, maiores entre maiores, inclusive em números de páginas, foram: A comédia humana (só consegui ler os treze primeiros volumes) e Em busca do tempo perdido (esse eu li todo, uma vez em português e outra vez em francês, comparando as duas). Poderia acrescentar também a estas duas obras: O homem sem qualidades, Thomas Mann todo (ainda não terminei de ler todo), Sexus, Nexus, Plexus, Machado de Assis, Borges, Dostoiévski, Ilíada e Odisseia, mas iria mais complicar do que ajudar. Vou deixá-las implícitas. Mas como considerar os quatro tipos de signos formadores? Signos mundanos, como analisa Roberto Machado, são marcados pela heterogeneidade. É a segmentação que faz um conjunto aberto de grupos específicos ou quase-grupos disparando para todos os lados seus próprios meios, pois os meios intelectuais dos grupos ou quase-grupos são mobilizadores de sistemas próprios de signos com os quais se faz imagem, ideia, valor e crença de grupo. São mundos sociais que se classificam mutuamente de modo agonístico, menos antagonismo e mais agonismo classificatório. Os diversos mundos sociais aí presentes nessa potlatch possuem seus porta-vozes e suas porta-bandeiras. Emissores de signos que dão a consistência a cada coletivo. Como os signos se relacionam com os sentidos? É importante lembrar, como faz Roberto Machado, que signos por ser emitidos por pessoas, por objetos, por matérias. Os signos estão relacionados a emissões de singularidade? A emergência do singular é simultaneamente discurso e acontecimento. Mas como relacionar regimes de signos, no sentido semiótico, regimes de discursos, no sentido semiológico e regimes de verdade, no sentido genealógico? Signos são de vários tipos, na possuem nem a mesma relação com a "matéria em que estão inscritos", nem são emitidos segundo as mesmas modalidades de emissão, produzem efeitos plurais sobre intérpretes, com relações heterogêneas com os sentidos e também com as faculdades de conhecimentos que os interpretam, mudam de relação no que diz respeito às estruturas temporais e às essências com as quais se relacionam. (cf. RM). Signos formam sistemas plurais e abertos de signos.

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