domingo, 18 de agosto de 2013

Genealogia do desejo e ethos da vida intelectual.

De Sêneca a Foucault, é na relação com a morte que uma forma de vida pode ser avaliada na sua singularidade, individualidade e autenticidade. A literatura é um dos modos mais intensos e significativos de elaboração dessa relação. A morte corre passo à passo à constituição da forma de vida. É no modo de morrer que se torna possível vislumbrar o valor do valor de uma existência para além dela mesma, como abertura para as formas absolutas da alteridade. Uma genealogia do desejo, em torno de processos de constituição de eticidades, envolve a ideia de que moralidades possíveis promovem deslocamentos em relação ao único lugar absoluto, o lugar do corpo, tais deslocamentos são heterotopias, corpos possíveis, moralidades possíveis. O ponto de partida é a relação com a morte, o que implica numa relação com o prazer. Afinal, uma forma total de prazer é uma relação com a morte, como costumava dizer Foucault. Prazeres possíveis transacionam com moralidades possíveis, o que faz nascer a ideia de forma de vida como um ethos, como uma política de existência, um estilo de existência. E é essa discussão que, a meu ver, interessa à vida intelectual concebida como uma forma de vida, como uma política do desejo.

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