sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O campo social aberto. Revisão de literatura.

Elias Canetti O medo do desconhecido inaugura distâncias. Para os coletivos antropológicos, o contato com aquilo que lhes é estranho mete medo. "Todas as distâncias que os homens criaram em torno de si foram ditadas por esse temor do contato" (CANETTI, 2005: p.13). O medo dos outros é uma atitude persistente nas relações sociais. O temor em entrar em "contato com o desconhecido". A elaboração de distâncias informadas por tal temor. As aversões estimuladas pela construção das divisas que estabelecem territorialidades separadas, distintas. A dificuldade de se lidar com o estranho. A relação entre as fronteiras de uma pessoa e sua coletividade de pertencimento face a outras pessoas e suas coletividades. Enfim, a elaboração de delírios paranoicos que fazem dos outros um fonte perene de desconfiança, pois os outros são os que potencialmente trazem agressividade ao mundo. Os outros concebidos como fonte da agressividade, como origem da violência. Entre atitudes de abertura para o contato com o estranho e atitudes de fechamento para esse contato, os coletivos se autonomeiam, demarcam a relação entre o espaço do fechamento e o da abertura. Daí nasce o sentido sociológico das fronteiras. Há ímpetos de construção da durabilidade a partir do espaço de fechamento, a durabilidade de um "grupo social", enquanto producente de sua própria entidade. Mas há igualmente ímpetos de destruição a partir do espaço de abertura, a instabilidade das relações do 'de dentro' com o 'de fora', afinal, a criação do contato com o estranho é fonte de captura de novas capacidades agentivas, o que não deixa de ser central, do ponto de vista do coletivo, para a duração do espaço social. O espaço do fechamento que se reflete, que se quer refletir enquanto grupo social, enquanto representação da durabilidade da entidade social, é constituído pela "experimentação domesticada" de uma coletividade ao se fixar como objeto de domesticação, o que implica enfatizar as capacidades agentivas que possam ser requeridas no interior do próprio grupo. O contrário disso é a experimentação insurrecional contra a limitação que o espaço de fechamento promove contra o coletivo enquanto múltiplo, ao reduzi-lo ao poder do grupo. Nos fluxos do real, não há espaço de fechamento ou espaço de abertura, como se fossem realidades sociais dadas lutando entre si pela alternância do estado das coisas, não se trata de um estado de coisas, mas de fluxos e enquanto fluxos, fechamentos e aberturas são atributos das relações de espacialização do socius. Homi Bhabha O território é o lugar do medo. É onde se demarca a terra, uma agrimensura, e onde se faz o terror, um domínio. É o lugar a partir de onde alguém é expulso pelo medo, principalmente, os potenciais inimigos, os que não são identificados como fazendo parte do lado de dentro, e quem não é do lado de dentro, precisa sentir medo diante do território. Um medo que adverte. Um medo que expulsa ou aniquila.

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