quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A hostilidade ao desconhecido

O sentimento de termos limites bem definidos na experiência de quem somos, um sentimento de nós bem delimitado com que fazemos a segurança de nós mesmos, é uma aparência enganosa. Aquilo que diz respeito ao nosso self e que é classificado com autônomo, unitário, bem demarcado, é esta classificação de um Ego delimitado, no sentido psíquico, o que há de mais enganoso nessa aparência de que um self, no sentido sociológico, é capaz de fazer de si vestindo fantasias absolutas de poder. É importante ressaltar que há pressuposição recíproca entre o sentido psíquico do auto-engano e o sentido sociológico de um self como fachada. O trabalho de manter para fora o sistema de delimitação claro e preciso do Self busca esconder a impermanência constante das fronteiras que um self reivindica com sendo dadas, estipuladas, sólidas como uma fortaleza, quando o que há é variação contínua de fluxos empíricos que ameaçam de dissolução os resultados sempre provisórios do esforço de enquadramento de si como uma individualidade, uma identidade e uma subjetividade (nota de estudo a partir de um excerto de Freud que não me sai da cabeça jamais). O fora é ameaçador para quem não faz de si o desafio de uma aprendizagem de pessoa em fluxo. O medo do desconhecido é o mecanismo de investimento na delimitação de si, nas fronteiras de um sentimento de nós, que se associa à atitude de fechamento diante de outros, e dos direitos de outros, o que corrobora com a crença na lealdade do próprio coletivo que assim se torna grupo corporado (nota de estudo). É preciso repensar a questão da hostilidade ao desconhecido (Freud e Canetti dão um bom ponto de partida para isso).

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