segunda-feira, 11 de maio de 2015

Desejo, gozo e corpo: notas de leitura.

Não há experiência humana sem desejo revelando-se no inconsciente. Não há desejo sem sua emergência na linguagem. A linguagem inconsciente. A enunciação na relação de fala, na sua gagueira, nos seus tropeços. No campo da linguagem, a fala como desejo do Outro. Mas como é possível um discurso sem palavras? O sintoma não pode ser apenas analisado como o lugar de uma incapacidade. O sintoma possui uma dimensão problemática que tange a possibilidade do exercício da imaginação criadora, sem o que não há novos contextos. Em vez de uma ordem simbólica excessiva, que reduz a contingência da fala, pensar os modos de gozo na relação com o corpo, a linguagem e o saber. Que tipo de impasse revela o gozo? Qual o lugar de dominância do gozo na estrutura das relações de fala ou das relações como estrutura? Quais são as maneiras de lidar com o gozo? Como superar o desejo de poder no modo de lidar com o gozo? O corpo sofre perturbações causadas pelo gozo. Os outros apenas podem nos estimular, mas não nos satisfazem, pois há um ir além na direção da superação da falta ou de sua anulação e isso nos faz adentrar num modo de gozo excessivo que só pode ser estabilizado pela linguagem. O desejo é uma forma para a fluidez do gozo e sem o corte desejante não há economia do gozo. O desejo pode ser pensado como uma atividade. É uma forma de fazer. Há um trabalho do desejo. Trabalhar o desejo como forma de relação com o prazer e a evitação do desprazer. O desejo como uma relação com o gozo, o desejo como performance, como ritual e erotização liberada pela forma que corta o fluxo do gozo ilimitado. O corpo aprisiona e incita a uma relação com a morte. A afirmação da diferença é o principal objeto de controle social. Como então pensar os corpos como heterotopias, como corpos em fuga (no sentido musical)? Lembrei do livro que Samuel Beckett escreveu sobre Proust. As modulações do eu. As modulações musicais do eu.

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