sábado, 30 de maio de 2015

Fantasias coletivas e análise social

Tenho me interessado pelo modo como fantasias de desejo de coletivos orientadas para os mais diversos objetos de consumo cultural podem desconectar pertencimentos ligados aos autointeresses de grupos de pessoas, fazendo com que os indivíduos mergulhem no investimento nas figuras subjetivas imaginárias, de uma comunidade de fantasia, em detrimento de vínculos sociais efetivados no contexto concreto da interação social onde se negocia o sentido da vida social. Em vez de tomadas de posição frente ao conjunto de interesses do grupo de pertencimento, os indivíduos projetam-se no fechamento de um desejo narcísico. E assim as percepções sociais da realidade social se desconectam de suas bases efetivas, gerando posições subjetivas de impotência e isolamento. Fantasias de desejo possuem nexo com circuitos de frustrações, como discute Freud. As percepções sociais do que seja a realidade da privação na vida real são um fonte decisiva para a compreensão da estruturação da vida coletiva. Como ensinava Robert Redfield, a análise da estrutura social é a análise das expectativas sociais. O que se pode esperar? O que se realiza entre as circunstâncias restritivas que incitam em um sentido e não em outro o funcionamento das capacidades agentivas? Neste abismo entre circunstâncias e sonhos de realização, situa-se o problema da identidade social, como recurso de identificação que estabiliza o fluxo dos desejos, crenças no confronto com o gozo ilimitado.

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