segunda-feira, 24 de abril de 2017

A luta política também é uma luta teórica.

Segundo Bourdieu, as lutas políticas também funcionam como lutas teóricas. Não apenas, mas também. Para ele, nós, cientistas sociais e pesquisadores em geral, temos que fazer frente com os movimentos sociais contra os modelos teóricos do neoliberalismo que se difundem como vulgata neoliberal através das mídias e outros canais, exercendo um forte efeito de teoria, de naturalização dos pressupostos teóricos do atual modelo dominante. Em cada fala que trata a conduta neoliberal como natural, há uma aceitação a um modelo teórico abstrato, adesão quase sempre inconsciente. Ou seja, a teoria é sim uma arma de dominação e também uma arma de luta contra a dominação. É também, não é a única frente, nem a mais importante. Mas, para nós que lidamos com teorias, a luta teórica contra o neoliberalismo teórico que virou senso comum e que não é reconhecido como uma teoria abstrata e a-histórica é uma frente imprescindível. Os pressupostos do neoliberalismo estão de tal modo incrustados nos quadros mentais das pessoas que até entre cientistas sociais o credo neoliberal virou a coisa mais normal e sensata do mundo, e não apenas pelo discurso dos que assumem o credo como o seu, mas igualmente pela prática efetiva dos que dizem ser contra tal credo. Para Bourdieu, o fatalismo economicista de um certo marxismo casou como uma luva com o fatalismo economicista da globalização neoliberal, baseada numa destruição de conquistas sociais e de direitos coletivos. O efeito de teoria do modelo teórico abstrato é um efeito real. Se a posse de modelos teóricos abstratos não fosse um dispositivo fundamental de poder, o neoliberalismo não teria tantos "pensadores", consultores, assessores, difusores, atuando de modo incessante, há mais de 30 anos, para fazer de um modelo teórico abstrato, a opinião de "todos".

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