segunda-feira, 24 de abril de 2017

O ensino da teoria como luta contra o racismo da inteligência.

Quando dizem que discutir teoria não é uma tarefa para qualquer um, mas, apenas, para uns poucos iluminados (em geral, homens brancos de classe média ou da alta elite), e que não se deve, portanto, forçar estudantes que não façam parte dessas elites a estudar teoria, quer se queira ou não, está-se a reforçar aquilo que Pierre Bourdieu chama de racismo da inteligência. Como professor, recuso-me a aceitar como natural que apenas estudantes homens, brancos, que estudaram em escolas particulares de elite, possam ser "naturalmente" submetidos às "pressões coercitivas" das demandas disciplinares por uma formação teórica de alto impacto. A ideia paternalista de que estudantes fora do perfil acima não sejam "cobrados" como se fossem "capazes" de acompanhar debates teóricos que estão reservados para os "iluminados" esconde uma atitude altamente racista e elitista. A minha insistência em ofertar ensino-aprendizagem em teoria social para quem desejar se engajar nisso é interpretada justamente como elitismo de minha parte. Eu discordo. Seria elitismo se eu não estivesse aberto para formar parcerias de estudo com qualquer pessoa que faça da teoria uma das dimensões da formação na educação superior e pós-graduanda. Me recuso a dizer que estudantes negros e negras, que estudaram em escola pública e provêm de famílias da classe trabalhadora não devem, não podem e não "servem" para discutir questões teóricas. Para mim, isso sim é racismo. Um populismo racista que esconde seu racismo. Neste sentido, reafirmo meu compromisso democrático de construir acessos de estudo que, em geral, são reservados a práticas de exclusivismo racial para garantir o poder dos brancos ricos e bem-nascidos, o que não é meu caso, apesar de branco. Sigamos na luta, mesmo diante de tantas incompreensões. E, como diz Bourdieu, a luta contra a dominação simbólica também passa pela luta teórica. Os brancos neoliberais do mundo dominante usam a teoria econômica como arma de dominação para impor a precariedade a todos e a todas, temos que exercer o contrapoder teórico, e estudantes negras e negros da classe trabalhadora devem, podem e são sim muito capazes de dar um baile em questões teóricas nos bem-nascidos poliglotas e cosmopolitas das elites brancas mundiais. É assim que penso e sinto. Críticas serão bem-vindas.

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